“Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”. André Filho tinha razão, nunca duvidem disto, mas a verdade é que algumas maravilhas da história do Rio não são tratadas como deveriam e com a importância histórica e funcional que poderiam. A Estação Barão de Mauá, seu nome original, que fica na Avenida Francisco Bicalho, é a mostra mais que real dos processos de retrocesso funcional e de falta da preservação da história carioca. Afinal, até meados do século passado, dali se poderia ir a São Paulo, Petrópolis, Três Rios, Friburgo e outros destinos, além de ser parte dos ramais da Supervia, antiga e desavergonhada Flumitrens.
Cidade sem planejamento de mobilidade urbana
Construída em 1886, a estação Barão de Mauá ligava o centro a diversos destinos. Foram grandes as brigas acerca das bitolas as quais os trens usariam, afinal, no Brasil sempre há espaço para discussões de interesses particulares. O prédio atual, desativado em 2001, foi inaugurado em 1926, no dia 6 de novembro, e guarda em si, as lembranças de um Rio clássico, que andava sobre trilhos. O trecho que fazia o percurso até a cidade de Três Rios, passando por Petrópolis, foi encerrado em 5 de novembro de 1964, e sua locomotiva encontra-se exposta no Museu Imperial de Petrópolis, no prédio anexo, onde ficava a cozinha real.
Não há como negar que o advento do automóvel é algo fantástico. Afinal, ele não é e nem nunca será o vilão desta história de mandos e desmandos, afinal, são muitos amantes de carro, aqueles que sabem de tudo e adoram uma troca de óleo, e sabem da sua importância como transporte de passeio, como quem vos escreve. Mas que também tem consciência que os processos de mobilidade urbana não passam só pelas estradas. Hoje vivemos dias de incerteza e falta de comprometimento dos políticos acerca do futuro da cidade do Rio de Janeiro.
Em 1998, o último Trem de Prata da história do Rio
Muitos nem sabem que até 1998, ou seja, poucos anos atrás, época em que a Estação Barão de Mauá ainda operava, era possível ir do Rio a São Paulo de trem, o Trem de Prata. No dia 29 de novembro do ano supracitado, partiu da Estação Barra Funda em São Paulo, com destino à Estação Leopoldina, a última composição que fez o trajeto. O retrocesso e o desinteresse é algo que assusta. A falta de comprometimento com a história é tema mais que relevante a se discutir. É uma nostalgia que não deveria ser vivida, pois ainda deveria estar sendo vivida, com gerundismo e tudo.
O trajeto entre Rio e São Paulo, que já tinha sido operado pelos trens Cruzeiro do Sul e à época tinha mais de um século, hoje é conto mal contado por aqueles que se tornaram testemunhas oculares do fato. Hoje, estamos esperando, mais uma das promessas feitas pelos políticos, que, como muitos, desconhecem a história da cidade, a construção ou reconstrução de uma verdadeira história carioca e até paulista. Os prometidos Trem-Bala são um sopro de esperança na recuperação da memória das estradas de ferro deste país!